Talvez não sejam as manifestações dos
Espíritos, na América, no século XIX com as irmãs Fox o grande acontecimento,
mas com certeza foi um marco e despertou o interesse do mundo para o assunto.
Acima fotos das irmãs Fox e da casa onde aconteceram os fenômenos.
Vamos
ao relato.
Em 1846 foram ouvidos golpes pela primeira vez
na casa de alguém denominado Veckmann, habitante de uma pequena vila chamada
Hydesville no estado de New York. Ninguém descobriu o autor desses ruídos
misteriosos e mais tarde, em 1847, essa casa foi então habitada por um membro
da igreja episcopal metodista: Sr. John Fox e sua família, composta de sua
mulher e de suas filhas, Margaret então com 14 anos e Kate, de 11 anos. Durante
três meses eles ficaram tranqüilos, depois os golpes recomeçaram num alto grau.
Primeiro vieram ruídos mais rápidos, como se algo caísse sobre o assoalho de um
dos quartos de dormir, e, a cada vez, uma vibração se fazia sentir sobre o
soalho, que era percebido mesmo se estando deitado. O solo vibrava tão forte
que as camas tremiam e se sentia essa vibração tendo início sobre o assoalho.
Os golpes se faziam ouvir sem parar, não havendo mais meio de se dormir na
casa.
Em
31 de Março de 1848, a
senhora Fox e suas filhas, não tendo podido dormir durante a noite precedente,
e exaustas de fadiga, se deitaram cedo, no mesmo quarto, esperando assim
escapar às manifestações que se produziam ordinariamente no meio da noite. O
Sr. Fox estava então ausente. Logo os golpes começaram, e as duas jovens
meninas, acordadas com a algazarra, começaram a imitar fazendo batidas com seus
dedos. Para seu grande espanto os golpes responderam a cada batida, então a
mais jovem das meninas, Kate, querendo verificar o fato surpreendente; deu uma
batida, ouviram um golpe, dois, três, etc., e sempre o ser ou agente invisível
devolvia o mesmo número de golpes. Sua irmã disse brincando: “Agora faça como
eu, conte um, dois, três, quatro, etc.,” batendo com suas mãos, de cada vez, o
número indicado. Os golpes se seguiram com a mesma precisão, mas esse sinal de
inteligência alarmou a mais jovem, e ela logo cessou a experiência.
A
Sra. Fox disse então: “Conte até dez.” O agente bateu dez vezes. A mãe colocou
uma série de perguntas e as respostas, dadas por cifra, mostraram um grande
conhecimento de seus próprios assuntos que ela mesma não recordava; porque os
golpes insistiam sobre o fato de que ela tinha sete crianças enquanto que ela
protestava não ter posto no mundo senão seis, até que um sétimo, morto precocemente,
lhe viesse à memória. A esta questão: “Você que bate é um homem?” nenhuma
resposta vinha; mas àquela “Você é um Espírito?” era respondida por golpes
rápidos e nítidos. Chamou-se uma vizinha, madame Redfield; seu divertimento
mudou em admiração e depois em terror à medida que ouvia, ela mesmo, as
respostas corretas à questões íntimas.
A
Madame Fox disse então ao seu interlocutor invisível: “Se nós fizermos vir os
vizinhos, os golpes continuarão a responder?” Um golpe se fez ouvir em sinal de
afirmação. Os vizinhos chamados não demoraram a vir, contando descobrir o
batedor invisível por todos os meios de busca possíveis; mas as exatidões de
uma multidão de detalhes dados assim por golpes, em resposta às questões
endereçadas ao ser invisível, sobre os assuntos particulares de cada um,
convenceram os mais incrédulos. Os rumores dessas coisas se propagaram ao
longe, e logo chegaram de todos os lados padres, juízes, médicos e uma multidão
de cidadãos.
Os
vizinhos acorreram em multidões enquanto que se expandiam os rumores a
propósito dessa maravilha; as duas crianças foram levadas por um deles enquanto
a Sra. Fox ia passar as noites em casa da Sra. Redfield. Em sua ausência, o
fenômeno se produzia exatamente como antes, o que, de uma vez por todas,
reduziu ao silêncio todas as teorias de quebra dos artelhos e de joelhos
deslocados que as pessoas perfeitamente ignorantes dos fatos reais
freqüentemente colocaram. Todos os meios de pesquisa foram praticados para
descobrir o batedor invisível, mas a averiguação da família, e de toda a
vizinhança, foi inútil. Não se pode descobrir a causa natural dessas
manifestações singulares.
As
experiências se seguiram numerosas e precisas. Na manhã seguinte, a casa estava
a crepitar, mais de trezentas pessoas estavam presentes nesse momento. Os
curiosos, atraídos por esses fenômenos novos, não se contentavam mais em
perguntas e respostas. Um deles, chamado Isaac Post, teve a idéia de recitar em
alta voz as letras do alfabeto, rogando ao Espírito a gentileza de bater um
golpe sobre aquelas que compusessem as palavras que ele queria fazer
compreender. Nesse dia, a telegrafia espiritual havia sido descoberta: esse
procedimento é aquele que veremos aplicar às mesas girantes.
Tal
foi a primeira conversação que teve lugar nos tempos modernos e que se haja
constatado, entre os seres de outro mundo e deste aqui. De certa maneira, a
Sra. Fox conseguiu saber que o Espírito que lhe respondia, era aquele de um
homem que tinha sido assassinado na casa que habitava vários anos antes, que se
chamava Charles B. Rosma, que era mascate e tinha trinta e um anos, enquanto a
pessoa com a qual morava o molestou para pegar seu dinheiro e o enterrou na
adega. Ossada humana foi efetivamente encontrada mais tarde.
Eis
em sua simplicidade, o início do fenômeno que viria revolucionar o mundo
inteiro. Negado pelos sábios oficiais, ridicularizado pela imprensa dos dois
mundos, colocado no ‘index’ pelas religiões receosas e ciumentas, suspeito na
justiça, explorado pelos charlatões sem vergonha, o Espiritismo deveria,
entretanto fazer seu caminho e conquistar aderentes, cujas cifras se elevam a
milhões, porque possui a força mais possante de todas: a verdade.
O
espírito engaja as jovens a divulgar suas manifestações, com o que convencerá
os incrédulos de sua existência. A família Fox se fixa em Rochester e, seguindo
os conselhos de seu amigo do espaço, as jovens missionárias não hesitam em
desafiar o fanatismo protestante propondo se submeterem ao mais rigoroso
controle.
Acusados
de impostura e submetidos pelos ministros de sua confissão a renunciar a essas
práticas, o Sr. e a Sra. Fox, fizeram da propagação do conhecimento desses
fenômenos, que eles consideravam como uma grande e consoladora verdade, útil
para todos, um dever supremo, e recusando a se submeter, foram cassados pela
sua Igreja. Os adeptos que se reunissem em torno deles sofreriam a mesma
reprovação.
Os
conservadores fanáticos conduziram a população contra a família Fox. Os
apóstolos da nova fé ofereceram, então, fazer a prova pública da realidade das
manifestações diante da população reunida no Corynthia-Hall, o maior salão da
vila. Começou-se por uma conferência onde foram expostos os progressos do
fenômeno após os primeiros dias. Essa comunicação, acolhida por vaias, terminou,
contudo com a nomeação de uma comissão encarregada de examinar os fatos. Contra
a expectativa geral, e contra sua convicção própria, a comissão foi forçada
declarar que após o exame mais minucioso, não teria podido descobrir nenhum
traço de fraude. Eles davam crédito de que esses golpes chegavam sobre os muros
e as portas, de qualquer distância das mocinhas, ocasionando vibrações
sensíveis. Malogrou descobrir qualquer meio pelo qual se teria podido obtê-los.
Nomeou-se
imediatamente uma segunda comissão que recorreu a procedimentos de investigação
ainda mais rigorosos; fez-se revistar e mesmo despir as médiuns, por senhoras,
bem entendido, sempre ouvindo os ‘rappings’ (golpes batidos na mesa), os móveis
em movimento, as respostas a todas as questões, mesmo mentais; nada de
ventriloquismo, de subterfúgios, de possíveis dúvidas. O segundo relatório foi
ainda mais favorável que o primeiro, sobre a perfeita boa fé dos espíritos e a
realidade do incrível fenômeno. É impossível – disse a Sra. Hardinge –
descrever a indignação que se manifestou a essa segunda decepção. O relatório
final declara que “os ruídos estão entendidos e que seu exame completo tinha
mostrado de maneira decisiva que eles não eram produzidos nem por um mecanismo
nem por ventriloquismo, ainda que, sobre a natureza do agente que os
produziram, fossem incapazes de se pronunciar.”
Uma
terceira comissão foi imediatamente escolhida entre os mais incrédulos e os
mais ridicularizadores. O resultado dessas investigações, ainda mais
ultrajantes que as duas outras para as pobres jovens meninas, provocaram ainda,
mais do que nunca, a confusão de seus detratores. O comitê testemunhou em
seguida que suas questões, algumas colocadas mentalmente, tinham recebido
respostas corretas.
A
multidão, exasperada, convencida da traição dos comissários e de sua conivência
com as impostoras, tinha declarado que, se o relatório fosse favorável,
linchariam as médiuns e seus advogados. As jovens meninas, malgrado seu terror,
escoltadas por sua família e alguns amigos, se apresentaram na reunião e
tomaram lugar sobre o estrado do grande salão, totalmente decididas a perecer,
se preciso fosse, mártires de uma impopular, mas indiscutível verdade.
A
leitura do relatório foi feita por um membro da comissão que tinha jurado que
descobriria o truque, mas que confessou que a causa dos golpes, malgrado as
mais minuciosas pesquisas, lhe era desconhecida. No mesmo instante teve lugar
um tumulto horrendo: a populaça queria linchar as jovens meninas, e elas o
teriam sido sem a intervenção de um quaker, de nome Georges Villets, que as
protegeu com seu corpo e reconduziu a multidão a sentimentos mais humanos.
Vê-se,
pela narração, que o Espiritismo foi estudado severamente desde seu início. Não
foram apenas os vizinhos, mais ou menos ignorantes, que constataram um fato
inexplicável, mas comissões, regularmente nomeadas, que, após esquetes
minuciosos, foram obrigadas a reconhecer a autenticidade absoluta do fenômeno.
As tentativas para desmascarar as fraudes nos fenômenos tiveram lugar
regularmente. Deve-se notar que este evento, que está no nascimento do
Espiritismo, está sujeito a numerosas deformações e desinformações da parte dos
oponentes do Espiritismo. Assim o jesuíta Lucien Roure, na sua obra “O Espiritismo
maravilhoso” defende que ninguém tinha colocado a questão de saber se o
fenômeno seria devido a fraudes e deixa mesmo insinuar que poderiam ter sido
produzidos pelo joelho, pelos artelhos ou pela cavilha! Outros irão até dizer
que a mais jovem das meninas era ventríloqua! Essas afirmativas gratuitas, sem
fundamentos, não podem explicar os efeitos dos fenômenos constatados, e sua
autenticidade confirmada por comissões hostis e fanáticas.
Fonte de pesquisa: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/unidual/curso-11.html